Fobia de palco diante de milhares de pessoas? Não é bem assim com Eric Vanlerberghe, vocalista do I Prevail. Em entrevista à Full Metal Jackie, o frontman revelou que seus momentos mais intensos de nervosismo nunca vieram dos grandes festivais ou arenas lotadas – e sim dos shows minúsculos, para 15 ou 20 pessoas, lá no início da carreira.
O vocalista contou que, nos tempos de banda local, encarar meia dúzia de rostos conhecidos na plateia era devastador. Já tocar para 500, 1.000 ou 30 mil pessoas se tornou, curiosamente, mais fácil.
“Na época das bandas locais, a gente subia no palco na frente de outras bandas. Tinha 15, 20 pessoas lá e eu não conseguia falar pra salvar minha vida. A gente ia de música em música porque eu tinha um pânico de palco enorme. Quando começamos a tocar para 300, 500, mil pessoas, foi tipo: ‘Isso é mais fácil’. Eu não preciso olhar pra cinco pessoas e saber que cada uma tem uma identidade, uma consciência, e que todas estão me julgando agora.” — Eric Vanlerberghe
Hoje, a realidade é outra: I Prevail vive fase de alta, turnês gigantes e um novo ciclo marcado pelo álbum Violent Nature, que marca também a reconfiguração interna da banda após a saída do co-vocalista Brian Burkheiser.
De best man apavorado ao frontman confiante
Mesmo acostumado a encarar multidões, Eric admitiu que seu pânico ainda aparece em situações bem específicas – como no casamento do guitarrista Dylan Bowman, onde foi best man.
Longe do barulho e da catarse de um show, falar diante de familiares e amigos foi um desafio maior do que muitos palcos.
“No casamento do Dylan eu tive que ficar encarando o celular com o discurso. Eu até marquei no texto: ‘Olhar pra cima. Termina duas linhas, olha pra cima’. Pelo menos levantar a cabeça, fazer contato visual com alguém, voltar a olhar pra baixo, foco, foco, foco… Foi assim o discurso todo.” — Eric Vanlerberghe
Essa dualidade — à vontade na enxurrada de gente, travado em situações íntimas — ajuda a entender como funciona a cabeça de um frontman moderno: a massa é confortável, o pequeno é pessoal demais.
Novo I Prevail: “Violent Nature”, “Into Hell” e a era sem Brian
A entrevista também aprofunda a transição delicada vivida pelo I Prevail após a saída de Brian Burkheiser. Eric assumiu não só os vocais rasgados, mas também boa parte das linhas melódicas, dividindo responsabilidades com Dylan.
A banda já tinha sido forçada a testar esse formato no passado, quando Brian ficou de fora de algumas turnês por lesão ou outros imprevistos. Em uma dessas ocasiões, a mudança de lineup aconteceu no meio de uma longa tour, com 40 e poucos shows em 50 dias, obrigando todos a aprender “no tapa”.
“Já tivemos que tocar com esse lineup antes, quando o Brian não pôde fazer uma turnê. Foi tudo na marra. Com o tempo, isso virou experiência. Quando a gente soube que a separação ia acontecer, começamos a escrever pensando no futuro.” — Eric Vanlerberghe
No estúdio, a confiança da banda foi fundamental para Eric se jogar de vez nos vocais limpos:
“Entrar no estúdio sabendo que, se eu desafinar ou tropeçar, ninguém vai ficar rindo atrás de mim, é tudo. Os caras estavam 100%: ‘Você consegue, vamos descobrir isso juntos’. Cantar é muito sobre confiança. Ter esse grupo me empurrando e me apoiando foi crucial.” — Eric Vanlerberghe
O resultado aparece com força no novo material:
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“Violent Nature” chegou como single de impacto, agressivo e direto, pensado para “chocar o sistema” e mostrar que a banda não tem medo de empurrar os próprios limites.
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“Into Hell” veio logo depois como contraponto melódico, expondo de forma mais crua o alcance dos vocais limpos de Eric – um teste de fogo aprovado pelos fãs.
A faixa, aliás, nem era a escolha óbvia da banda para single, mas o selo bateu o martelo:
“A gravadora foi muito enfática: ‘Esse é o próximo single’. A confiança deles jogou ainda mais confiança pra gente. Se nosso time acredita assim, vamos puxar o gatilho.” — Eric Vanlerberghe
Palco, design de show e a arte de usar cada centímetro da estrutura
Com a nova formação e o crescimento do I Prevail nos festivais, a banda começou a repensar o show não só como execução musical, mas como experiência visual e emocional completa.
Eric explica que, durante anos, o foco era subir no palco, tocar forte e se divertir. Mas ao encarar anfiteatros, palcos enormes e estruturas complexas, o pensamento mudou:
“Você aprende que não dá pra depender só do público pra fazer o show acontecer. Em um anfiteatro, com cadeiras, rampas, morro… você não vai ter circle pit a música inteira. Então começamos a pensar o show como uma montanha-russa: altos e baixos, mas sempre entretendo.” — Eric Vanlerberghe
Risers, pirotecnia e movimentação de palco entraram na equação. Eric agora também pensa na estética de cada música ao vivo: onde subir, quando interagir, como ocupar o espaço sem perder a performance vocal. Um desafio novo, mas que ele abraça como exercício criativo.
Influências, trilhas sonoras e o perigo de ser só “derivativo”
Além da reconstrução interna e da luta contra a ansiedade de palco, Eric falou também sobre influência musical e o cuidado para não transformar o I Prevail em uma cópia disfarçada de seus pares.
Ele assume que continua indo a shows em dias de folga, não importa o gênero – se a música causa algo, vale a pena. Mas, na reta final de composição de um álbum, a regra é clara: evitar consumir sons muito parecidos com o universo da banda, para não regurgitar ideias alheias.
“Toda arte é inspirada no que você cresceu ouvindo. Mas perto da linha de chegada, eu tento tomar cuidado com o que estou consumindo. Se você só escuta as mesmas coisas, provavelmente vai escrever algo bem derivativo.” — Eric Vanlerberghe
Cinema, trilhas de filmes, especialmente de terror e suspense, entram como combustível criativo. O objetivo não é copiar sonoridades, mas perseguir emoções:
“O importante é você perseguir o clima, a emoção específica. Se aquilo mexe com você, não importa o rótulo.” — Eric Vanlerberghe
Metalcore em alta, festivais de volta e o I Prevail no olho do furacão
Na parte final da conversa, Eric ainda comenta sobre a sensação de ver o metal e o metalcore voltando com força aos grandes pacotes de turnês, como a Summer of Loud ao lado de Parkway Drive, Killswitch Engage e Beartooth.
Ele lembra do hiato deixado pelo fim de gigantes como Ozzfest e Mayhem Festival, e como os últimos anos trouxeram de volta a ideia de tours itinerantes pesadas, com lineups sólidos, público engajado e grandes estruturas.
Enquanto isso, o I Prevail segue surfando essa nova onda com Violent Nature já disponível, consolidando a fase em que Eric Vanlerberghe não só enfrenta o pânico de palco à sua maneira, como assume de vez o posto de vocalista completo — grito, melodia, emoção e presença.
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