
O Amplifica Fest realizou sua primeira edição no último sábado, no Carioca Club, em São Paulo, celebrando os quatro anos do podcast comandado por Rafael Bittencourt em uma maratona musical que se estendeu das 14h até depois da 1h da manhã. Reunindo 15 atrações em um único palco, o evento apostou em sets curtos para a maior parte das bandas e performances mais longas para os headliners, resultando em uma jornada diversa, cheia de descobertas e marcada pelo inevitável desgaste de uma programação tão extensa.
A abertura ficou a cargo da Syntetica, que fez seu show de estreia misturando prog metal com ecos de Evergrey em sua fase clássica. Mesmo diante de um público reduzido, entre 20 e 40 pessoas, a performance chamou atenção pela segurança da baterista Ellen Tavares, imprimindo identidade ao som da banda. O Countruck trouxe uma guinada inesperada para o country rock, criando um clima leve e eficiente ao vivo, enquanto o AL9 resgatou a estética setentista com referências claras a Led Zeppelin e Aerosmith. O Black Jack manteve o ritmo com um hard rock sólido, ainda que dentro de uma fórmula reconhecível. O bloco inicial ganhou força com o MentalTrigger, que apresentou um metalcore energético e tecnicamente bem estruturado, conduzido por um vocalista carismático que conseguiu mobilizar o primeiro grande momento da tarde.

A virada concreta ocorreu com o Sujera. A banda levou ao Carioca Club a primeira explosão real de público, com fãs cantando as letras e devolvendo a energia em igual intensidade. A partir desse ponto, a casa começou a encher de forma contínua. Jessica Falchi, com apenas duas músicas, mostrou maturidade artística e técnica afiada, justificando a crescente atenção em torno do seu nome. A Debrix seguiu firme, entregando um som de impacto e consolidando seu espaço mesmo com pouco mais de um ano e meio de trajetória. O Pavilhão 9 reforçou seu status histórico, levantando o público com clássicos e contando com a participação especial de Fernando Schaefer na bateria, elevando ainda mais o peso do set.
As transições ousadas se evidenciaram com o 3Pipe Problem, que trouxe um grunge bem construído, enriquecido por teclados — elemento raro no gênero, mas incorporado com equilíbrio. A Downshifter enfrentou problemas técnicos com o VS, porém manteve presença, peso e um vínculo forte com os fãs, que responderam gritando o nome da banda.

A reta final concentrou os maiores picos de energia do festival. O Electric Mob reafirmou seu status de banda ascendente, com Zonta conduzindo o público com segurança e potência. O Project 46 alcançou o maior público do evento, entregando um show intenso e emotivo, marcado pelo anúncio do fim da turnê do álbum TR3S e pela participação do ex-baixista Rafael Yamada, que intensificou o clima de reencontro. O Maestrick elevou o nível técnico com seu prog metal de camadas, teatralidade e forte senso narrativo, consolidando sua reputação como uma das obras mais sofisticadas do metal progressivo brasileiro.

O encerramento ficou a cargo do Bittencourt Project, que apresentou uma performance íntima e detalhada, contando com uma formação especial composta por Jonas Souza, Mario Jr., Pedro Tinello, Davi Jardim, Guga Machado, Henrique Cstella e Mario Jr. no violino. O set misturou faixas do Brainworms I com versões reinterpretadas do Angra e covers criativos, adicionando ao festival nuances pouco usuais no heavy metal tradicional por meio do uso de violino e percussões adicionais.

Apesar da proposta ambiciosa e da intenção clara de valorizar bandas em diferentes estágios da cena nacional, o Amplifica Fest acabou impactado pelo excesso de atrações e pela duração prolongada. A oscilação de público ao longo das quase 12 horas de evento refletiu o desgaste natural de uma maratona tão extensa, afetando tanto as bandas quanto a experiência geral. Ainda assim, o festival cumpriu sua missão ao celebrar a diversidade, revelar novos nomes e reafirmar o potencial do metal brasileiro, mostrando que iniciativas desse porte são fundamentais para que a cena siga ativa, vista e valorizada.
#metalneverdie #festival #metal #brasil #heavymetal #rocknacional #progmetal #metalcore #hardrock
Texto por Bruno Mota






