A noite de quinta-feira em Brasília foi marcada por um espetáculo raro: a fusão entre música clássica e brutalidade extrema que só o Fleshgod Apocalypse é capaz de entregar. O palco do Toinha Brasil recebeu os italianos em um ritual que oscilou entre a sofisticação de Wagner e a violência dos blast beats, em uma performance que transcendeu o conceito de show de metal.
Antes da entrada da banda, o ambiente já estava tomado por música clássica, não como simples fundo, mas como um manifesto. Era a introdução de uma sinfonia distópica, um prenúncio de que a destruição teria direção de maestro.
O grupo surgiu no palco em uma verdadeira entrada triunfal. A abertura com “Ode to Art” e “I Can Never Die” estabeleceu o pacto: não haveria concessões, apenas a beleza crua da destruição. O setlist seguiu como uma tapeçaria de hinos fundamentais de sua discografia. “The Fool”, com sua arquitetura complexa, e “Sugar”, carregada de agressão melódica, mostraram a banda em seu ápice técnico. Já “Morphine Waltz” elevou o drama ao nível de uma tragédia shakespeariana.
O ápice de catarse coletiva veio com “No”. O público transformou o refrão de “…Baby One More Time”, de Britney Spears, em um grito massivo. A ironia, carregada de sarcasmo e inteligência, foi recebida com devoção, mostrando que no caos também há espaço para humor.
O encerramento do set principal foi marcado por “The Violation”, clássico absoluto do álbum Agony, que continua sendo um marco da carreira e um favorito entre os seguidores mais ortodoxos.
Mas a teatralidade do Fleshgod Apocalypse não permitiria que a noite terminasse sem surpresa. O bis foi um golpe de gênio: uma versão demolidora de “Blue (Da Ba Dee)”, do Eiffel 65. O hit eletrônico dos anos 90 foi reinventado em formato sinfônico-death metal, arrancando risos, gritos e headbangs em perfeita sincronia.
Os destaques individuais tiveram peso próprio. Francesco Ferrini, atrás de sua fortaleza de teclados, mais do que um instrumentista, funcionou como arquiteto de atmosferas, conduzindo cada passagem orquestral como se fosse parte de uma ópera obscura. Ao seu lado, a soprano Veronica Bordacchini encarnou a dualidade da banda: ora lírica, quase etérea, ora brutal em guturais que romperam fronteiras, sempre com presença de palco imponente.
O resultado foi uma verdadeira produção teatral: do sublime ao brutal, com execução irrepreensível. Fleshgod Apocalypse não apenas tocou. Eles performaram, hipnotizaram e conquistaram. O Toinha Brasil foi palco de uma masterclass inesquecível.
Fotos e textos por Bruno Mota
#metalneverdie #fleshgodapocalypse #deathmetal #symphonicdeathmetal #metalitaliano #bsbmetal #underground