Single prog metal trata de migração e pertencimento e abre nova fase para a IAR com a voz de um ícone do rock brasileiro
Do rock universitário ao metal progressivo — Humberto Gessinger, ícone do Engenheiros do Hawaii, resolveu adicionar mais peso à própria história e entrou de vez no território do heavy metal. A façanha aconteceu ao lado da banda gaúcha It’s All Red, no single “Pertencimento pt.2”, lançado em 7 de novembro de 2025.
Uma travessia sonora e humana
“Pertencimento pt.2” não é só um crossover curioso — é um encontro de mundos. O som é prog metal moderno, com guitarras afiadas, camadas de teclado e um violino de arrepiar, tudo guiado pela voz inconfundível de Gessinger. A faixa fala sobre imigrantes, refugiados e o sentimento universal de não pertencer totalmente a lugar nenhum.
“Essa música é sobre travessias humanas, deslocamentos — espontâneos ou forçados — e a sensação de nunca pertencer completamente a um lugar”, explica Gessinger.
A canção nasceu no estúdio Soma Music Hub, em Porto Alegre, quando o guitarrista Rafael Siqueira (IAR) e Gessinger trocaram ideias sobre literatura e terminaram trocando riffs.
“Gessinger postou uma foto do livro Mês dos Cães Danados, do Moacyr Scliar. Comentei que daria pra fazer uma música sobre isso e ele respondeu: ‘Pensei em ti quando postei!’… daí o convite aconteceu naturalmente”, conta Rafael.
A surpresa: Gessinger pesado e feliz
Humberto escreveu parte da letra e as melodias vocais, enquanto o vocalista Tom Zynski adicionou versos em inglês e alemão, dando à faixa um ar quase conceitual. O resultado surpreendeu até quem estava no estúdio.
“Ouvir a voz do Humberto sobre uma base pesada foi emocionante. Dá vontade de fazer um disco inteiro”, confessa Rafael.
O guitarrista ainda entrega que o clipe foi gravado durante as sessões de estúdio e que uma segunda parte da música será lançada no próximo álbum da banda.
Gessinger metaleiro: o DNA que sempre esteve lá
Apesar de ser lembrado como poeta do rock brasileiro, Gessinger sempre teve um pezinho no metal. E ele mesmo admite:
“Minha árvore genealógica é Led Zeppelin, Deep Purple, Iron Maiden e Motörhead (por causa do baixo). Eu era mais progressivo do que metaleiro, mas aos 60 anos essas gavetas ficam pequenas demais pra caber toda a diversidade bacana da música.”
Ele também comenta o estigma que o acompanhou desde os anos 80:
“Desde o início, o pessoal do rock me achava muito MPB e a MPB me achava muito rock. Gaúchos me achavam uma banda nacional e o Brasil me achava uma banda gaúcha. Tentei não deixar que rótulos atrapalhassem meu caminho.”
E, como bom cronista do cotidiano, Humberto relembra os tempos em que discutir estilos era quase um esporte:
“No colégio, nossa conversa favorita era debater subdivisões dentro de subdivisões do rock. Era divertido. Mas com o tempo essas distinções perdem relevância. Hoje é tudo sobre a música — e o prazer de tocar.”
It’s All Red: o metal gaúcho em forma de arte
Com 18 anos de estrada, o It’s All Red é um dos nomes mais sólidos do metal gaúcho. Já tocaram ao lado de Megadeth, Cavalera Conspiracy, Paul Di’Anno e Ratos de Porão, e colecionam três álbuns e quatro EPs.
O novo single mantém a pegada técnica e emocional da banda, mas agora com uma dose inesperada de lirismo trazida por Gessinger. A faixa ainda conta com Vini Möller (teclados e coautor) e Maria do Carmo (violino).
“Os fãs do Humberto são tão incríveis quanto os fãs do Iron Maiden! Se eles aprovarem, teremos algo pra lembrar pra sempre!”, brinca Tom Zynski, vocalista da banda.
Formação da It’s All Red:
Tom Zynski (vocal) | Daniel Nodari (guitarra) | Rafael Siqueira (guitarra) | Vicente Telles (baixo) | Renato Siqueira (bateria)
Um ponto de virada
“Pertencimento pt.2” é mais que uma parceria inusitada — é um gesto de liberdade artística. Gessinger mostra que continua curioso e inquieto, e a It’s All Red prova que o metal brasileiro ainda pode surpreender.
“Achei legal, ponto final”, resume Humberto, com aquele tom típico de quem sabe o peso que tem.
E a gente aqui na Metal Never Die agradece: finalmente alguém misturou Engenheiros do Hawaii com riffs de sete cordas e saiu vivo pra contar.
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