A banda brasiliense Arandu Arakuaa é uma das vozes mais autênticas e necessárias do metal brasileiro contemporâneo. Fundada em 2008, o grupo construiu uma carreira marcada por uma proposta singular: unir metal pesado, línguas indígenas e espiritualidade ancestral em um mesmo discurso artístico. Cantando em tupi-guarani, akwê xerente e xavante, a banda busca não apenas inovar na sonoridade, mas resgatar e valorizar as raízes culturais dos povos originários.
Confira o videoclip de Hêwaka Waktû:
Uma fusão entre o ancestral e o moderno
Enquanto grande parte do metal nacional se inspira em temas europeus, a Arandu Arakuaa olha para dentro do território brasileiro. As letras exploram mitos, rituais e visões de mundo indígenas, narrando histórias sobre o nascimento da terra, os espíritos da floresta, a relação com os elementos e o respeito à natureza. Essa imersão espiritual é traduzida musicalmente em arranjos que combinam riffs pesados, violões e violas caipiras, percussões tribais e vocais versáteis, que alternam entre o gutural e o canto ritualístico.
O resultado é uma sonoridade única, que poderia ser descrita como folk metal com DNA brasileiro, mas que vai além das etiquetas: é um manifesto sonoro pela preservação da identidade indígena e pela resistência cultural em tempos de apagamento.
Zândhio Huku: o visionário à frente da tribo
O idealizador e principal compositor, Zândhio Huku, cresceu em contato com comunidades indígenas no Tocantins, especialmente com os povos Xerente e Krahô. Essa vivência moldou não apenas sua relação com a música, mas seu compromisso em usar a arte como ponte entre o metal e o Brasil profundo. Multi-instrumentista, Zândhio desenvolveu uma guitarra híbrida de dois braços, que combina timbres de guitarra elétrica e viola caipira, simbolizando o diálogo entre o ancestral e o contemporâneo.
Para ele, cantar em tupi é mais do que uma escolha estética — é um ato de resistência linguística e cultural, uma forma de devolver ao público um idioma que foi sistematicamente silenciado.
Confira o videoclip de Gûyrá:
Discografia
Álbuns
- Kó Yby Oré (2013) — estreia que apresentou ao mundo o conceito da banda, unindo peso e tradição.
- Wdê Nnãkrda (2015) — mergulho mais profundo nas línguas indígenas e na experimentação rítmica.
- Mrã Waze (2018) — consolidação artística, com produção aprimorada e letras ainda mais poéticas.
EPs
- Arandu Arakuaa (2012) — registro embrionário que capturou a essência inicial da proposta.
- Ainãka (2021) — trabalho recente que reafirma a maturidade e a força simbólica do grupo.
Entre os destaques da discografia estão faixas como “Waptokwa Zawré”, “Kaburéûasu”, “Ybytu”, “Am’mrã” e “Kûarasy”, todas construídas sobre estruturas rítmicas tribais e atmosferas cinematográficas.
Formação
A formação atual da banda gira em torno de Zândhio Huku (voz, guitarra, viola), Andressa Barbosa (baixo, vocais), Guilherme Cezario (guitarra) e João Mancha (bateria/percussão). A química entre os integrantes fortalece o aspecto coletivo do projeto — algo que ecoa a ideia de comunidade tão presente nas culturas indígenas.
Impacto cultural e reconhecimento
A Arandu Arakuaa não se limita aos palcos do metal: o grupo já se apresentou em festivais culturais, espaços de resistência e eventos ligados à causa indígena, sempre defendendo a preservação da memória e dos direitos dos povos originários. A crítica especializada reconhece o projeto como um marco de originalidade no metal brasileiro, tanto pela pesquisa linguística quanto pela profundidade das letras.
Confira o videoclip de Sekwa:
confira o videoclip de Ĩpredu:
Mais do que uma banda, a Arandu Arakuaa é um movimento artístico e político, que prova que o metal pode ser ferramenta de educação, reflexão e transformação social. Em um cenário mundial dominado por temáticas genéricas, o grupo brasiliense mostra que o peso das guitarras pode carregar também o peso da história
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Escrito por: @hudandrade_
