Queensrÿche no Brasil 2025: duas noites, zero concessões

O Queensrÿche voltou ao Brasil em 2025 com sangue nos olhos, pulmões afinados e uma missão clara: reafirmar sua identidade — mesmo que isso custasse o carinho do fã ocasional. E foi exatamente isso que fizeram. Em dois shows intensos, o primeiro no palco gigante do Monsters of Rock (19/04) e o segundo numa atmosfera mais controlada no Vibra São Paulo (20/04), a banda de Seattle mostrou que não está aqui para revisitar o passado como uma jukebox de luxo — mas sim como uma entidade viva do metal progressivo.

Um retorno com cicatrizes

Ausente dos palcos brasileiros desde os tempos de brigas judiciais, tretas públicas e versões alternativas da banda (sim, estamos olhando pra você, Geoff Tate 2013), o Queensrÿche de hoje é outro animal. Com Todd La Torre consolidado nos vocais há mais de uma década, a banda reencontrou seu centro de gravidade. Mas isso tem um preço: o setlist vem com peso, complexidade e sem concessões.

Monsters of Metal… e sem balada

No Allianz Parque, o Queensrÿche já mostrou a que veio ao abrir o show com “Queen of the Reich”, numa performance que misturava precisão cirúrgica com agressividade crua. O vocal de La Torre impressionou. Ele não é Tate — e isso é um elogio. Ele não tenta imitar, ele encarna.

Durante o set, clássicos como “Operation: Mindcrime”, “The Mission” e “The Needle Lies” colocaram o público fiel em transe, enquanto os fãs de “Silent Lucidity” se perguntavam onde haviam se metido. Spoiler: os hits radiofônicos ficaram de fora. Nenhuma “Jet City Woman”, nenhuma chance de cantar de mãozinhas dadas. O Queensrÿche atual prefere explodir seus ouvidos com prog metal turbinado a embalar corações solitários. E isso foi lindo.

Vibra São Paulo: a revanche indoor

Na noite seguinte, a apresentação ao lado do Judas Priest foi mais compacta e (teoricamente) mais próxima do público. Mas ainda assim, a banda manteve a postura inabalável: nada de hits fáceis. O som potente do Vibra São Paulo até ajudou a criar uma experiência sonora imersiva — ainda que um pouco alto demais para o tamanho da plateia.

Destaques? Muitos. “I Don’t Believe in Love” foi uma muralha de riffs e refrão grudento. “The Lady Wore Black”, surpresa da noite, trouxe aquele toque dramático dos primeiros dias da banda. E “Take Hold of the Flame”, como sempre, foi o momento catártico da apresentação.

Mas, sejamos sinceros: o público geral parecia dividido. Uma parte vibrou com cada virada de bateria e solo entrelaçado. A outra parte… bem, queria cantar “Silent Lucidity” no Instagram Stories. E saiu decepcionada.

A crítica e a visão da banda

Em entrevistas recentes, Wilton e La Torre foram diretos: o Queensrÿche está focado no futuro e no legado metálico real da banda. O vocalista disse que essa fase representa um resgate das raízes mais pesadas e técnicas, longe da fase “adulto contemporâneo” que tomou conta da banda nos anos 90.

Eles estão escrevendo um novo disco com o produtor Zeuss e prometem mais riffs, mais complexidade e — talvez — até algumas explorações orquestrais e percussivas. Só não espere baladas ou tentativas desesperadas de viralizar. O Queensrÿche atual não está interessado em seguidores: está interessado em relevância artística.

Conclusão: entre a reverência e a ruptura

A tour brasileira de 2025 não foi para todos. Mas foi exatamente isso que a tornou memorável. O Queensrÿche não quer reconquistar multidões — quer manter acesa a chama dos que realmente entendem sua proposta. E se para isso for preciso abandonar os hits e correr o risco de parecer “inimigo da felicidade”, que assim seja. O verdadeiro metal é escolha. E o Queensrÿche escolheu ser fiel a si mesmo.


Setlists

Monsters of Rock (19/04 – Allianz Parque):

  • Queen of the Reich

  • Operation: Mindcrime

  • Walk in the Shadows

  • I Don’t Believe in Love

  • Warning

  • The Needle Lies

  • The Mission

  • Nightrider

  • Take Hold of the Flame

  • Empire

  • Screaming in Digital

  • Eyes of a Stranger

Vibra São Paulo (20/04):

  • Queen of the Reich

  • Operation: Mindcrime

  • Walk in the Shadows

  • Breaking the Silence

  • I Don’t Believe in Love

  • Warning

  • The Lady Wore Black

  • The Needle Lies

  • Take Hold of the Flame

  • Empire

  • Screaming in Digital

  • Eyes of a Stranger


#QueensrycheBrasil2025 #MonstersOfProg #SilentLucidityNuncaMais #MetalNeverDie

 
 
 
 
 
Ver essa foto no Instagram
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

Uma publicação compartilhada por Metal Never Die (@metalneverdie.mnd)