
Enquanto muitos guitarristas gastam horas mergulhados em teoria musical, diagramas de escalas e padrões harmônicos, Adrian Smith prefere outro caminho: o da intuição. Em uma nova entrevista para a Ultimate-Guitar.com, o guitarrista do IRON MAIDEN falou sobre seu processo criativo e por que seus melhores solos nascem de algo muito mais visceral do que regras acadêmicas.
“Eu apenas escuto a música e ouço o solo na minha cabeça. Depois tento tocá-lo. É tudo por instinto.”
Essa abordagem guiada pelo ouvido e pelo sentimento tem sido uma constante na carreira de Adrian, seja nos solos memoráveis do Maiden ou nas faixas recém-lançadas ao lado de Richie Kotzen, no aguardado álbum Black Light / White Noise, que chega no dia 4 de abril pela BMG.
Conversamos com Smith sobre a evolução dessa parceria, a liberdade de criar sem regras, seus wormholes de guitarristas no YouTube e como ele mantém a centelha criativa acesa.
“Improvisar ficou mais divertido com a idade (e com bons monitores)”
Adrian conta que, no início da carreira com o Maiden, tudo era mais estruturado. Agora, com a tecnologia a favor (adeus, luzes de palco que pareciam o sol do Saara), ele se permite arriscar mais nos solos ao vivo:
“Hoje é mais fácil ouvir o que você está tocando no palco, então isso abre espaço pra improvisação. Mas Steve [Harris] sempre fala: ‘Você precisa improvisar tanto? Eu gosto daquele solo do disco.’ Então tento equilibrar.”
O riff bluesy que nunca falha
Desde o primeiro disco, a química entre Smith e Kotzen se apoia em riffs crus, pegada setentista e melodias bem colocadas:
“Cresci ouvindo Bad Company, Free, Deep Purple… Richie também tem muito disso na voz. Acho ele um dos vocalistas mais subestimados do rock.”
E sim, a faixa “Darkside” traz aquele clima de velho oeste decadente com blues e folk à la Paul Rodgers — uma ambientação que Smith adora explorar.
“Nada de produtor, nada de engenheiro — só nós dois e os riffs”
O processo criativo entre os dois é cru e direto. Kotzen tem o estúdio, Smith leva os riffs. Sem filtro, sem intermediários. Como na faixa “Muddy Water”:
“Richie me mostrou a demo e eu fiquei boquiaberto. Terminamos a letra juntos. Gravamos tudo nós mesmos — guitarras, baixo, bateria, tudo. Só nós.”
Sobre solos, melodias e Yngwie Malmsteen
Apesar de não se considerar técnico (“Se eu tocasse como Yngwie, nunca calaria a boca”, brinca), Adrian vê sua força na musicalidade e na melodia:
“Melodia é atemporal. Tento criar solos que sejam musicais, que grudem na cabeça, mas com um toque de brilho quando possível.”
Do MAIDEN ao PRIMAL ROCK REBELLION (sim, ele ouve seus próprios discos)
Entre um solo e outro, Smith diz que evita ouvir música no dia a dia — ele prefere tocar. Mas de vez em quando, revisita seus trabalhos antigos:
“Outro dia ouvi meu álbum solo Silver and Gold. Tava na academia, fiquei sem ideia do que ouvir. Soou bem melhor do que lembrava.”
Também revisitou o Primal Rock Rebellion, seu projeto com Mikee Goodman do SikTh:
“É bem diferente de tudo que já fiz. Ouvi recentemente e pensei: ‘Isso aqui tá muito bom, até esqueci.’”
Os favoritos do Maiden moderno? Sim, ele tem.
Com a aproximação dos 50 anos do IRON MAIDEN, Smith revela seu carinho especial por Brave New World e destaca uma faixa em especial:
“Tenho orgulho de Paschendale. É épica, longa, proggy. Coisa que o Maiden faz como ninguém.”
Vida doméstica, chá e… Jerry Reed?
Nos momentos fora dos palcos, Smith diz que toca guitarra todos os dias, mas quase nunca ouve música casualmente:
“Isso embaralha minha mente. Prefiro descansar o cérebro. Mas caio fácil em wormholes no YouTube — guitarristas dos anos 70, country picking, Jerry Reed, essas coisas.”
“Não sei escalas. Quer dizer, sei… mas nem tanto.”
Smith admite que seu conhecimento teórico é limitado — e ele não parece preocupado com isso:
“Não sei escalas ou nada do tipo. Bem, sei, obviamente, mas não conheço muita teoria. Toco de ouvido.”
A declaração pode soar polêmica em tempos onde guitarristas são julgados por técnica e domínio teórico, mas também revela a confiança de quem entende que a emoção ainda é o verdadeiro fio condutor de um grande solo.
O som Smith/Kotzen: onde o blues encontra a alma
A parceria entre Adrian e Richie Kotzen (THE WINERY DOGS, ex-POISON) retorna afiada e mais coesa neste segundo disco. Gravado em Los Angeles e mixado por Jay Ruston, o álbum é descrito como uma obra que equilibra o peso do hard rock com toques de soul, funk e progressivo.
“Smith/Kotzen é sobre encontrar o meio-termo”, explica Kotzen.
“Adrian tende pro heavy, eu vou mais pro soul e fusion. No meio disso, surge nossa identidade: esse blues rock pesado onde nos conectamos.”
De Thin Lizzy a Prince: influência com identidade
“Black Light / White Noise” é uma coleção diversificada, recheada de riffs carregados, vocais poderosos e nuances que vão de Jimi Hendrix e Cream a Free, Deep Purple e até Prince — mas sempre com a assinatura autêntica de Smith e Kotzen.
“Queríamos algo que misturasse minhas raízes no hard e blues com o toque mais emocional do Richie. No fim, tudo vira uma fusão única com anos de estrada.”
Um disco novo, com alma antiga
Com composições ricas, solos estratosféricos e um equilíbrio entre peso e sutileza, Black Light / White Noise promete se destacar como uma das grandes obras do ano. Ou como disse a própria BMG: “Um som novo com a profundidade de um bom vinho vintage.”
Black Light / White Noise chega às lojas em 4 de abril pela BMG, com riffs pesados, feeling blues e muita autenticidade. Smith/Kotzen segue como uma das colaborações mais puras e espontâneas surgidas da escola do metal tradicional.
🎧 Ouça “Black Light”